Projeto de Iniciação Científica (2017-2018) apresentado no 24º Congresso de Iniciação Científica da Universidade de Brasília e 15º Congresso de Iniciação Científica do Distrito Federal.
Autor da pesquisa: Pedro Henrique Silva Lopes
Orientadora: Profa. Dra. Nitza Tenenblat
Colaboradores: Alexandre da Silva Batista, Jorge Marinho, Nei Rodrigues Cirqueira
Resumo: A presente pesquisa parte do entendimento de instâncias diferenciadas de vulnerabilidade no trabalho do ator resultantes do projeto de iniciação A Vulnerabilidade como Ferramenta na Criação em Coletivo Diante da Plateia (2016-2017, UnB) e se aprofunda na instância de vulnerabilidade durante a apresentação cênica e sua utilização na palhaçaria. Partindo da minha experiência prévia prática como ator em palhaçaria e os resultados da referida pesquisa, este trabalho objetivou identificar a vulnerabilidade como ferramenta técnica na arte da palhaçaria no momento da performance. Busca-se, a partir de uma práxis pessoal, entender de que forma ela pode ajudar na palhaçaria ou não, em que circunstâncias ela se torna essencial, como o ator/palhaço lida individualmente com essa sensação e como pode ou não manipular a vulnerabilidade a seu favor no momento da performance. Para a execução deste trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre os temas de vulnerabilidade, vulnerabilidade do ator diante da plateia e a arte da palhaçaria, incluindo técnicas de retirada do palhaço (termo técnico para criação de um personagem palhaço) e o desenvolvimento do mesmo. Com o conhecimento em palhaçaria prévio e após as leituras referenciais, fiz a retirada de um novo palhaço, batizado de Baú, foco central desta pesquisa. Com o Baú realizei apresentações internas para o grupo Coletiva Teatro, linha do grupo de pesquisa Criação em Coletivo para a Cena (UnB) bem como apresentações externas no Restaurante Universitário da UnB e no pequeno teatro de arena do BSAN (UnB). Por fim, recebi feedbacks do grupo de pesquisa, fiz registros em diário de bordo sobre a sensação de vulnerabilidade no meu corpo durante as apresentações e analisei as respectivas gravações das performances. Comparativamente à outras instâncias de vulnerabilidade com as quais o ator lida (antes ou após a apresentação), percebo ser durante a apresentação cênica o momento de maior vulnerabilidade para o palhaço. Uma vez que o ator tem a opção de se colocar vulnerável ou não em cena, noto que em cena como o palhaço Baú, enquanto permaneço vulnerável, poroso, aberto no momento presente da apresentação, sinto que há uma maior partilha sensível entre público e palhaço, o que na palhaçaria considero fundamental. Durante cada encontro com o público a vulnerabilidade permitiu que eu me mantivesse em estado de palhaço ininterrupto. Minha experiência prévia e a atual pesquisa me permitem compreender que o uso da vulnerabilidade é uma ferramenta perceptível e recorrente no trabalho de outros palhaços, embora a maioria não articule isso explicitamente. Neste sentido acredito que a vulnerabilidade pode ser compreendida como ferramenta fundamental na arte da palhaçaria. De acordo com leituras referenciais sobre a arte do palhaço no que tange a vulnerabilidade e com os resultados obtidos nesta pesquisa concluo que um palhaço precisa dizer sim para sua vulnerabilidade diante da plateia, assim como diz sim para o jogo, para si próprio e para o aqui e agora da apresentação. Diante da experiência vivenciada durante esta pesquisa um palhaço que não se permite estar vulnerável começa e termina em si mesmo num fluxo que não movimenta ninguém, quiçá ele mesmo. Um palhaço que tropeça nos próprios pés e cai na gargalhada gera a empatia do riso, pois se revela vulnerável. O público acha graça dele, mas também de si próprio pois se reconhece nesta ação cotidiana. Assim se permite também ser/estar vulnerável. Entende que ao ver o palhaço confortável diante do tombo crê que há a possibilidade de rir de si mesmo, entendendo que somos todos vulneráveis só por existir. Aceitando a vulnerabilidade como uma melhor forma de se viver: sorrindo com e para a vida.
Realização: Coletiva Teatro – UnB
Apoio: FAP – DF
